segunda-feira, 24 de setembro de 2012

cheiro de cacarecos.

sabe quando você precisa procurar algo no maleiro do seu guarda-roupa? ou se não, dentro daquele quarto separado da casa, onde todas as tralhas, tranqueiras e objetos considerados desnecessários são depositados? não vem logo aquele cheiro de guardado, aquela coceira no nariz, o mofo que se criou pela imobilidade das coisas, e o incômodo de respirar tanto pó acumulado? com a vida não é diferente. e algo que já de imediato me intriga é exatamente esse hábito de guardar o que então não se considera útil. por que  mantemos esses cacarecos ocupando um espaço que podia ser tão mais aproveitado? ali no lugar daquele quarto poderia sair uma bela biblioteca, ou até mesmo um outro banheiro, que já seria de maior utilidade. mas não, o apego a bens, seja de qualquer natureza, nos acorrenta no corpo e na alma. é um peso que não precisávamos carregar se conseguíssemos nos desprender das representações que criamos. ser politicamente correto, que exatamente isso quer dizer? porque quando mudamos de papel e passamos a ser os vilões que condenávamos, entendemos a humanidade de suas ações e justificamos os seus-nossos atos? o que é errado, não o é genericamente? não há justificativas para o erro consciente. em algum momento, no caminho para que ele se concretizasse, houve a chance de se escolher em não fazê-lo. então como lidar com o que se permitiu? o que exatamente representa a permissão? dá para extrair algo de bom do que se considerou tão ruim? tantas perguntas em tão pouco espaço. fazia tanto tempo que eu não remexia nos meus cacarecos. precisei abrir a porta hoje para guardar mais umas tralhas que eu não sei onde jogar. sem saber o que fazer com todo esse lixo sentimental que eu acumulei durante tantos anos. errar faz parte até de um acerto, quando de seu erro fica claro que o certo é o que já se tem. mas é tão relativo o que se tem, quando o que nos pertence é somente aquilo que carregamos conosco. até uma pedra tem valor porque a ela foi-se dado tal valor. e a gente quantas vezes transforma em diamantes estrume de boi. abro a janela para que o vento me areje e me livre das folhas secas que se acumularam e das traças que sobem pelas minhas pernas querendo corroer minhas certezas e engordar às custas de minhas bençãos. que o sol ultrapasse minha pele e aqueça meus ideais. que queime meus medos. que eu me ocupe do que me é bem e que o cheiro da maldade seja inodoro às minhas narinas.

Música do dia: Lua e Flor - Oswaldo Montenegro.

" a certeza ventilada de poesia"...

Nenhum comentário:

Postar um comentário